segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Observações de uma gestante



“Parto. Parto-me”.
A sensação é de um parto mesmo.
Sou muito lenta para assimilar algumas coisas e sinto que só agora estou começando a entender A Mensagem. Estava digerindo, mas parece que agora sim captei.
Sinto dores, palpitações, ansiedade, medo, vazio.. mas finalmente e felizmente: consciência destes sintomas.
Era isso que eu não estava enxergando antes. Agora ficou tudo mais claro, fez sentido sabe?

Sentir a presença de mim mesma enquanto viva, um ser que existe, é muito dolorido e gratificante. Mas a dor é a prova dessa existência. É necessária. Não é um senso fácil de assimilar.

Talvez eu até preciso de mais tempo. Talvez eu até leve a vida inteira para entender esta essência. Mas me sinto tão aliviada por saber pelo menos o que procuro.

Não posso dizer que estou simplesmente feliz por saber isso. Como disse antes, sinto dor e medo, mas essa solidão de viver autenticamente me permitirá atingir a liberdade plena. A tal liberdade que tanto anseio. A possibilidade de ser essência em qualquer circunstância.

Também não me sinto inteiramente só: me sinto privilegiada e abençoada por ter a permissão de chegar a tal conclusão.

Sei que é apenas o começo de uma grande aprendizagem. O fruto desta mensagem já nasceu e sinto que está para vir amplas possibilidades. Estou me permitindo . Como disse a Clarice: “o jeito é começar de repente assim como eu me lanço de repente na agua gélida do mar, modo de enfrentar a vida como uma coragem suicida ao intenso frio”.

O segredo é peculiar e individual, somente o eu possui a chave da consciência de si e é através dele que chegaremos a transcendência do ser.


Thais Souza.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Replanejando





Não sei se a lua está virada pra câncer hoje, e nem sei se realmente acredito que isso influencie minha vida. Mas sem enrolação, hoje levantei meio nostálgica. Isso não era para acontecer. Isso é contradição com gêmeos. Ainda mais nesse começo de mês tão animado em que estou.
Por mais clichê que seja, janeiro é um mês que me obriga a voltar as lembranças queridas (ou não) de um passado curto ou longo. E foi assim que procurando certo objeto numa caixa velha e abandonada, reencontrei vários cadernos antigos. Tempos de escola... Cada caderno: cada ano, cada novela diferente.
Entre tantos figurantes e protagonistas que durante esse tempo, passaram e deixaram suas marcas em mim, percebo o quanto a grande bola girou e nos moldou.
Promessas de intermináveis amizades parecem tão estúpidas e ingênuas diante da realidade. Esperanças de fazer com que os planos fossem concretizados sem interferência do improviso também.
Não sou nostálgica, mas só apareço por aqui quando estou. Já percebi isso. =)
Revirando as folhas do caderno, encontrei algumas dedicatórias de alguém que foi e ainda é muito especial pra mim.
Alguém cuja vida foi atingida pelo vendaval de surpresas (boas, inclusive). Mas que de um jeito ou de outro pegou acesso a outra direção e fez com que a distância ficasse maior.
Talvez a responsável pela distância tenha sido minha própria deficiência de adaptação. Mas mais um ano recomeça e junto com as lembranças, segue a famosa esperança de mais uma vez replanejar tudo outra vez.
Como já disse, janeiro está muito animado. Guardo com carinho pessoas novas que estão passando rapidamente por mim e deixando aquele gostinho de "obrigado".
Logo mais o ano vai se solidificando e a trama vai se desenvolvendo alarmando às imperfeições do ser, a rotina criada pelo "eu", a curiosidade pelo desconhecido e as consequências de cada passo dado.

Planejo tentar planejar o mínimo, contradizer tudo se necessário, amar mais os defeitos e encurtar essa distância entre pensar e viver aquilo que desejo.
Seja o que tiver de acontecer e o que eu precisar e quiser fazer, farei.
Para que tudo valha a pena no final é preciso evitar o bloqueio mental e se arriscar no improviso. =)



Thais Souza.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Imprecisão



Era pra ser só um dia. Só mais um pouco.
Passaram-se meses em que, acomodada, assistia a vida alheia seguir o ritmo. Ritmo de quem tinha prazos. Sem correria não iriam chegar a tempo para conseguirem lugar vago naquele ônibus. E o ônibus viria, cedo ou tarde, dependendo do ponto de vista. É melhor já estar tudo garantido.
Analisava-os como alguém que estivesse do alto, enxergando cada detalhe que eles tentavam esconder. E as horas passavam, e ela sentada assistia.
Tão assim, tão sei lá... tão de qualquer jeito. Tão sem alguma coisa.Que alguma coisa?
Cada olhar, cada riso, cada mosquinha a atraía atenção. Atenção instável. Dispersa seguia, então. Faltava. O tempo todo. Momentâneas eram as distrações que só a fazia se sentir mais nada.
Nem sempre foi assim, e quando passou a ser?
Assistia-se.
Quem era diante deles? Em qual parte os eram ela? Onde estaria ela nesse momento?
Então nesse contexto desconexo o tempo passou.
Nesse novo lugar, a teoria só não basta. Daí a Insegurança, o Arrependimento e o Amadurecimento andam juntos. Assim, tão meio sem jeito, tão meio sem direção.. assim tão, tão insatisfeitos.




Thais Souza.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

I Miss You



Esperarei o dia em que nos veremos.
Sei que demorará, afinal perdemos totalmente o contato.
Não sei seu nome completo, seu endereço. Não sei seu signo, sua cidade, seu bairro. Não sei se seu cabelo está liso baixinho, ou cheio todo enroladinho.
Confesso que este último é o meu favorito.
Tenho saudades de você.
Saudades de quando te observava de longe, todo concentrado... seu olhar sempre fixo e misterioso mostrava que falávamos a mesma língua.
Eu, com minha mania de decifrar as pessoas pelas minhas próprias convicções psicológicas, analiso aquela época como a mais harmoniosa que já tivemos. Cada gesto, cada olhar, cada mania sua era um sinal de que estávamos conectados. Estávamos plenos. Dia a dia perfeito.
Lugar perfeito onde vivemos tantas histórias.

Lembra quando você caiu da escada?
Todos ficaram comovidos quando o resgate teve que te levar, e você, mesmo com toda aquela dor permanecia firme, resistente a qualquer expressão de fraqueza.
O tempo passou e me levou pra longe de ti.
Com uma dor no peito, aperto na garganta e lágrimas escorrendo em meus olhos, mais tarde, pude sentir a consequência de uma não ação: te ver pela última vez, mas não ter coragem de me mostrar.

Sempre me pergunto se nos veremos algum dia.
Éramos tão diferentes... Bom, pelo menos eu mudei. E você é o único sonho que ainda permanece [Um sonho...].
Se algum dia tiver outra oportunidade, poderei te dizer que naquele dia, tudo o que eu queria era ficar. Dizer que te amava, de uma forma que até hoje desconheço uma afeição semelhante por alguém. Que sua força era a minha e meu estímulo era todos os dias te admirar e te querer para nunca mais separarmos.
Queria dizer que você continua comigo, todos os anos, nessa lembrança que mais dói do que satisfaz. Dizer que aquela foi a época mais linda que vivi até hoje, mas que viver de espera é cansativo.

Esperarei o dia em que nos veremos outra vez. Até quando, eu não sei.


Thais Souza.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O tempo não pára





"Tic tac, tic tac.."
Mal abro os olhos e já escuto o relógio alertar que já não há mais tempo.
De primeira instância, percebo que o despertador não tocou e só ficou o "tic tac", incessantemente dizendo que se eu não correr, o dia já não começará bom.
A mente é tão confusa ao despertar, pois a imagem distorcida do sonho em junção com a realidade da água caindo em meu corpo me dirige a mais um pensamento não querido. As vozes de minha própria racionalidade já não me são tão agradáveis, pelo menos não de manhã. Qual a 'razão' para logo cedo?
Para que tantos "por quês", e tantos "porquês"?
Qual a diferença, se tudo no final é respondido com o "..."?
O sentimento limita à palavra.

Evitando ao máximo ter de olhar ao pulso esquerdo, verifico o horário e vejo que estou atrasada.
Atrasada para a vida.
Tento correr, mas o ônibus não passa. E os que passam eu não pego.
Medo de ousar (novamente)? Medo do ônibus tomar a direção não desejada? Afinal a escolha existe e é necessário a compreensão de que se eu não entrar, jamais chegarei ao meu destino.

"Piiiriliiiim" "taranranram..." - O despertador acaba de me alertar. Acorde.

Thais Souza.

terça-feira, 1 de março de 2011

Chove



"Meu coração vai se entregar a tempestade" Maria Rita - Santa Chuva



Um dia de chuva pode ser difícil.
A chuva nada mais é que a verdade. A mais pura das realidades naturais. E muitas vezes por nossas próprias ações, a chuva, que deveria ser um processo natural, se torna uma das causadoras de tantos problemas sociais e conflitos internos.
Somos responsáveis por nossas escolhas. Ligeiramente teimosos em dizer que sabemos de algo. Somos irracionais. Vocês não são? Desculpe-me, sempre essa mania minha de generalizar todos por mim mesma...
Tantos sentires e emoções me são expostos num dia de chuva. Eu gostava dela...
Tento poetizar, mas minha poesia se resume em lágrimas. As lágrimas já se misturam com as gotas caídas ao chão.

O jornal diz que virá mais tempestade.



Thais Souza.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Coisas a serem ditas




Há muitas coisas a serem ditas. Decidi que não durmo hoje sem dize-las.
Seria bom não criar expectativas quanto a isso. Na verdade, era isso que eu queria dizer.
Não sei porquê não digo. Não disse.
Talvez porque você não me deixa dizer. Você me encanta, mas já está encantado. E as vezes fica dificil dizer para um fumante que ele precisa parar de fumar.
A questão se complica ainda mais, pois quem tem o direito de dizer o que deve fazer? Quem sabe a verdade? Todos não merecemos fazer da vida o que quisermos?
Como disse, você me encanta. Me ilude.
Entendo quando vem todo feliz me dizer o que fez no dia, o que pretende... mas vejo que não faço parte. Tenho outros planos. Não sei.
Não quero ser enfeitiçada. Não hoje, não agora. Quem sabe? Deus sabe? Sim, ele sabe.
Por favor, pare de me dizer o que devo fazer. Não preciso ser isto ou aquilo. Já SOU. Estou bem assim. Estava bem até você... bem, até você aparecer e fazer com que eu tenha vontade de dizer algumas coisas.

Há muitas coisas a serem ditas, mas deixo para depois. Você não me deixa falar, e esta insônia um dia acaba.
(...)

Thais Souza.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Beautiful Lie



Sonhos e invenções me acompanham dia e noite. Fica até difícil distinguir o real do irreal.
Credibilidade em gestos, feições, olhares e frases são conteudos que permanecem na memória principalmente antes de dormir. Chega a ser bizarro apostar que o dia será melhor ou pior devido a isso.
Nomeando-se, existem diversas palavras que explicaria esta dependência, mas não as quero mencionar agora. Estas palavras poderiam caracterizar uma própria personalidade, que na verdade nem sequer existe. Ou melhor, finjo que não existe.

Desconhecidos me são familiares na maioria das vezes (o que nos aproxima?).
Histórias são vividas apenas por mim mesmo. Mas me sinto feliz ao fim do dia. Temporariamente.

Então, só resta a pequena esperança de que num futuro próximo, eu as viva verdadeiramente, intensamente, realmente.

Thais Souza.

sábado, 4 de setembro de 2010

Casa Aberta




Meu vizinho tem uma casa aberta. Sim, literalmente, uma casa aberta.
De inicio, me espantei ao perceber que a geladeira, o fogão, o sofá amarelo, a garrafa de café sobre a mesinha de madeira, e as cadeirinhas bem arrumadinhas, fosse a casa deles. Deles porque são três rapazes. Aberta porque é ao ar livre. Somente o(s) quarto(os) são fechados.

É um sobrado enorme. Do meu quintal consigo ver a parte de cima do sobrado.
Antigamente, achava que era apenas a área de "lazer" dos moradores debaixo, mas domingo passado, vi que era o lar, realmente dos três rapazes.
Estava eu no meu quintal, lendo um livro, quando me deparei com um rapaz também muito concentrado na leitura. Com muita curiosidade, comecei a observá-lo. Em cima do sofá tinha uma mochila e logo em seguida, um outro rapaz apareceu, vindo do corredor com um copo na mão. Abriu a geladeira, pegou uma Coca-Cola, e agarrou a revista, deitando relaxadamente no simpático sofá amarelo.

Enquanto observava-os, minha mente imaginava porções de histórias sobre eles. Histórias baseadas nas perguntas básicas, como: quem eram? Desde quando moravam ali? Por que moravam apenas os três? A partir daquele domingo, a curiosidade pela vida deles, me rodeava.

Entendam, não sou o tipo de pessoa que "cuida" da vida dos outros, mas à eles, atribuo esta vontade à necessidade de preencher algo que não consigo dizer.

Hoje pela manhã, precisamente às 4h47, fui observá-los. Entre a escuridão da madrugada, e a luz da lua, um dos rapazes estava lá, no sofá amarelo. Com uma xícara na mão vermelha, ele parecia contar as estrelas. Talvez pensando na vida, pensando no que poderia ter feito, ou no que vai fazer. Sempre invento uma história pra eles. Acho que eles viraram meus personagens.

A personalidade deles eu também inventei. Este, "das estrelas" é o meu favorito. Ele parece um pouco perdido as vezes, um tanto avoado.. um tanto familiar.
Não consigo descrevê-los fisicamente, pois não os vejo. São inespressiveis, misteriosos...
Tenho a impressão que eles são eu.

Na realidade, esta "casa aberta" para o mundo me atormenta. Esta falta de privacidade deles me pertuba. Mas mesmo nesta situação constrangedora da minha parte, eu continuo espiando-o, continuo inventando estas histórias...

Talvez um dia eu os conheça de verdade, e possa entender que a "casa" deles nunca fora aberta para os outros.


Thais Souza.

sábado, 7 de agosto de 2010

À vista


Lá vem ele, com toda a sua elegância, transmitindo a dúvida. A dúvida de pensamentos...
Toda vez que me encontro com ele, meu corpo se estremece. Séries de emoções me invadem e eu simplesmente não consigo explicar o motivo.
Nossos encontros são rápidos, mas com grande intensidade. As vezes dizemos um "oi", um "o que está pensando?", ou um "desculpa, foi sem querer", perguntas banais. Já em outras situações, nossas conversas rápidas são tão profundas, que de uma simples provável pergunta, vem uma translação de sentimentos. Não importa, ele sempre será um mistério. Sempre estará transformando meu sistema nervoso. Um mistério bom, que eu gosto de desvendar. Aliás, que eu gosto de tentar desvendar.

Sempre me pergunto, o que ele acha de mim, o que ele vê.
O que vejo nele é algo indecifrável. Nos enfrentamos. E eu prefiro não admitir certa malícia que me invade. Sim, a malícia e eu agora estamos nos conhecendo. Não me sinto inteiramente à vontade com ela, mas como uma folha levada pelo fluxo de água, vou me arrastando até ver aonde irei parar.
Por outro lado, a ingenuidade foi algo que sempre me acompanhou, e parece que tento fugir dela. Tento enxergar por outro lado, afim de satisfazer uma emoção momentânea. Mas isso é segredo, e dura pouco.

O fato, porém, é que eu ele não passamos de uma ilusão. Uma fantasia. Algo que criamos, não sei porquê, e que vem nos "enchendo" de explosões sentimentais. Aliás, esse "nós" nem existe. O que existe é eu e eu. Ele é apenas aquele olhar que me persegue e me proporciona aquela gostosa e inquieta sensação de sentires indefinidos.

Indiferentemente se ele existe ou é apenas ilusão, continuarei sendo arrastada pelo fluxo de sentimentos sem destino à vista.


Thais Souza.